Coisas de Mogi

Hoje vou destacar algumas pérolas encontradas em publicações aqui de minha cidade, Mogi das Cruzes. Elas servirão para dar dicas aos leitores sobre alguns tropeços bem comuns no uso da norma culta da língua. Comecemos…

O primeiro exemplo é de um jornal gratuito distribuído no meu bairro acho que quinzenalmente. Na edição em homenagem ao Dia da Mulher, encontrei a seguinte manchete:

Fui ler o artigo, pensando que tratava da generosa e bondosa alma feminina, que empresta coisas aos outros mais do que os homens. Mas não. A matéria falava que as empresárias pediam mais empréstimo do que os empresários. Muita gente tem usado o verbo emprestar no sentido de tomar emprestado, como o autor do texto. Talvez esse significado até venha a ser admitido “oficialmente”, mas, por ora, quem empresta empresta alguma coisa a alguém. Portanto: “Eu pedi emprestado o carro”, “João, você me empresta seu mp3 player?”, “Maria é daquelas que adoram usar roupa emprestada!”, “Tudo o que peço emprestado quebra.”

No mesmo jornal, um político fez sua homenagem às mulheres com o seguinte texto:

Acertou na intenção, errou na redação. Primeiramente, faltou a vírgula após “parabéns”. Nessa frase, mulher é vocativo; por isso, precisa ser precedido de vírgula. Vocativo indica que você está chamando alguém – há um “ó” implícito ali. “Parabéns, ó mulher!” É comum a falta desse vírgula naquelas chamadas de campanhas do governo, como “Desperta Brasil!”. O correto é “Desperta, [ó] Brasil!” Minha amiga Tandai, do Brasil Contra a Pedofilia, sempre proclama corretamente: “Levanta e luta, Brasil!”.

O segundo erro do nobre político foi de concordância. “Fez” é terceira pessoa, enquanto “tua” é segunda. Ou seja, ele deveria ter dito ou “tudo que já fizeste em tua…” ou “tudo que já fez em sua…”.

No mesmo jornal ainda, havia este anúncio:

Eu também não confio em anúncio feito por atores… Eles não me inspiram nenhuma confiança.

Passando para outra publicação, selecionei dela três preciosidades. A primeira é da área da saúde.

Há várias coisinhas no anúncio, mas destaco duas. Uma, óbvia, é a doença nova de que eles tratam: Alzaimer. [:)] A outra é que moradia, por ser palavra feminina, exige que o adjetivo concorde com ela em gênero; portanto, o texto deveria trazer “temporária”, não “temporário”. O erro de concordância de gênero ou verbal estraga muito qualquer escrito.

Mais um.

A empresa que lava rapidamente o carro dos clientes é lava-rápido, com hífen. Sem hífen, é uma ordem: “Lava rápido!”, ou uma pergunta: “Lava rápido?”, ou uma simples declaração: “Como é o João com a mangueira e a esponja? Ah, ele lava rápido.” Na verdade, na verdade, depois de verbo deve ser usado um advérbio de modo; no presente caso seria “rapidamente”. Mas fica o exemplo apenas para ressaltar que o correto é “lava-rápido”.

A última desse jornal é de causar preocupação. É um anúncio de uma escola. Veja:

Erros feios, meu povo! Aulas são inclusas (feminino, plural), não incluso (masculino, singular)! E não existe crase antes de diária. Seguindo uma das regras para saber quando a crase é necessária, você troca a palavra feminina após o artigo por uma masculina. Se ela exigir “ao” (preposição a + artigo o), você usa “à” (preposição a + artigo a). Não funciona aqui. Você não dirá “R$ 15,00 ao aluguel”, mas “R$ 15,00 o aluguel”. Portanto, “R$ 15,00 a diária”.

Fico apreensivo com o ensino dado nessa escola…

Para concluir, um presente extraído de uma revista que me chegou aqui, também gratuita. Havia muitas resvaladas feias, mas escolhi esta, por ilustrar como é fácil nos perder quando tentamos falar de modo rebuscado.

Se a imagem ficou muito pequena, clique nela para vê-la no tamanho natural.

Bem, ao ler essa chamada, você deve ter-se perguntado: “O quêquesse cara quis dizer?” Pois é… Vamos tentar ajudar o moço.

Ele começa a frase usando o pronome indefinido “alguns”. Então, deveria tê-lo usado até o final. O pronome está no plural e corresponde à terceira pessoa; portanto, todos os verbos devem concordar com ele. Mas “nos desenvolveremos” é primeira pessoa do plural e “tem” é terceira pessoa do singular. Assim, a melhor redação – corrigindo não só os verbos, mas lapidando-a para que se torne mais clara – poderia ser: “Para alguns, é um momento difícil aquele em que têm de escolher a carreira na qual se desenvolverão profissionalmente nos anos que virão”. Ou: “O momento de escolher a carreira profissional na qual se desenvolverão no futuro é, para alguns, o mais difícil da vida.” Ou outra variação sobre o mesmo tema.

Por hoje é só, pessoal! Voltem sempre!

Que Falta Faz um Revisor: português bem-humorado e ilustrado! (Será que pega a chamada? [;)] )

One Reply to “Coisas de Mogi”

  1. Muito bom o blog. Parabéns!
    Uma coisa interessante é que muitas pessoas têm geralmente o “vício” de usar crase para tudo!
    Tenho uma teoria de que essas pessoas confundem a preposição com a crase. Elas creem que quando o “a” soa como uma preposição, então deve haver crase.
    Outro exemplo está no mesmo exemplo do “Lava rápido”: segunda À sábado.

    Muito bom.
    Abraços.

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