Quem é a mãe desse revisor?

Em primeiro lugar, peço desculpas aos revisores, pois sei que o texto sobre o qual falarei não passou por revisão. O hábito dos escrevedores de internet, principalmente os que têm canudo de jornalismo, é eles mesmos escreverem e publicarem, sem passar pelo crivo de outro profissional.

Mesmo sabendo disso, mantenho o título, apenas para ressaltar que revisor (bom, atento, acordado, desperto) sempre é necessário. (Como eu costumava dizer a uma colega, “juntou duas letras, precisa de revisão”.) E porque, como veremos, houve uma tentativa de revisão no texto, com certeza pelo mesmo sujeito que o (mal) escreveu.

Vamos aos fatos. Dia desses, encontrei um artigo na SuperInteressante, do qual gravei o seguinte trecho:

Cochilando…

A lista de cochiladas é grande:

  1. A forma verbal correta é estreou.
  2. Festival de Veneza: ambas palavras devem ser grafadas em maiúscula, por ser nome próprio, assim como Festa do Peão, Dia de Ação de Graças, Festival de Gramado, etc.
  3. A forma correta é filmes-cabeça. É um composto formado por dois substantivos, em que o segundo limita a extensão do primeiro, indicando finalidade, semelhança, qualidade, etc. É o caso de homem-bomba, peixe-boi… Mais tradicionalmente, apenas o primeiro elemento é flexionado no plural (homens-bomba, peixes-boi), mas há quem aceite que ambos sejam flexionados. Particularmente, penso que isso não se aplica ao termo em questão: filmes-cabeças é horrível!
  4. Nome de revistas, livros, peças de teatro, filmes, etc. deve ser escrito em itálico. O autor acertou isso umas vezes, ficou com preguiça em outras…
  5. O nome do filme é Mãe!, com ponto de exclamação, esquecido na última citação.
  6. No último parágrafo, faltaram, além dos itálicos, um a depois de graças e uma vírgula depois de (2008).
  7. Na última frase, ele estava com muito sono!

Pois bem. Depois de publicado o artigo, imagino que a mãe do redator tenha ficado horrorizada com o trabalho do menino. Alertado pela zelosa progenitora, ele agora se torna revisor. E eis o resultado do trabalho (vi hoje):

Ainda cochilando…

(Esqueci de marcar festival…)

Ele tentou consertar o primeiro verbo, mas deixou-o num estado ainda pior. Pelo menos, arrumou a frase enigmática (seria uma frase-cabeça?).

Isso só confirma o que esse blogue há muito defende: valorize o bom e despertado revisor! Por melhor escrevinhador que você seja, deixe outro confirmar isso (ou não).

Até mais!

2 Replies to “Quem é a mãe desse revisor?”

  1. Ficou também o erro de regência verbal, no segundo parágrafo… “Assistir” no sentido de “ver como plateia”, é transitivo indireto e rege preposição “a”.

  2. Gabriela, obrigado pelo comentário. Regência verbal, como sempre comento aqui no blogue, é assunto complicado, que exige consulta constante de escreventes.
    Tenho para mim que essa distinção na regência de “assistir” acabará por ser extinta, dado o uso popular. Mas isso ainda deverá demorar…
    Abraço!

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