“Você sabe falar miguxês?” É o que está escrito aà em cima na nova linguagem dos jovens
CARINA RABELO
TRIBO Beatriz (à dir.) se comunica com um grupo de dez amigas apenas em miguxês |
A cada geração, os adolescentes criam seus códigos especÃficos de comunicação. É uma forma de caracterizar o grupo e, principalmente, excluir os mais velhos da conversa. Quem não se lembra da LÃngua do P (a letra P vinha sempre no inÃcio de cada sÃlaba), que embalou as conversas juvenis dos adultos de hoje. Atualmente, está na moda o “miguxêsâ€, uma derivação do “internetêsâ€, linguagem utilizada pelos jovens na internet na última década. O internetês surgiu durante a troca de mensagens na rede por e-mail, MSN e Orkut e tinha como proposta abreviar as palavras e simplificar o texto. O objetivo do miguxês é complicar a escrita e ir além do mundo virtual. “Não consigo entender nada do que elas conversamâ€, comenta Estella Oliveira, mãe de Beatriz Oliveira, 12 anos, que se comunica com um grupo de dez amigas apenas em miguxês. “Todos os meus colegas na escola falam e escrevem assim. No inÃcio parece estranho, mas a gente aprende rápidoâ€, diz ela. Uma frase como “Quero ir à festa da escola hoje à noite†vira “KErU I a fEstAh daH eScolaH HJ A Noitiâ€.
TÔ FORA Juliana desistiu da lÃngua depois de ir mal na escola |
O miguxês foi criado pelos emos, tribo de adolescentes que valoriza a emoção. A linguagem transcendeu o grupo e alcançou jovens e adolescentes de todo o PaÃs, como o baiano Márcio Miler Monteiro dos Santos, 15 anos, que mora em Salvador, na Bahia. “É uma forma diferente e carinhosa de se comunicar com os amigosâ€, afirma. A proliferação do miguxês só foi possÃvel graças ao MSN e comunidades do Orkut, que divulgam a linguagem e defendem o uso dela entre os adolescentes.
Uma das polêmicas em torno das novas linguagens é o risco de atrapalhar o aprendizado da escrita formal nas redações escolares. Foi o que ocorreu com a estudante Juliana Freitas Nascimento, 16 anos, que chegou a tirar nota 2 em uma prova, por errar a grafia das palavras. “Quando vi que estava me prejudicando, me irritei gà m o miguxês. Hoje, tô fora dessa bobagemâ€, comenta. Pesquisadores, no entanto, garantem que não há motivo para alarde. “A lÃngua sempre foi um campo de tensão entre as novas gerações e as anteriores, que temem as mudanças. Não há riscos. Os jovens conseguem diferenciar as situações de interlocução e sabem quando é o momento de escrever certoâ€, diz a psicanalista Cláudia Rosa Riolfi, pesquisadora e professora da faculdade de educação da Universidade de São Paulo. Além disso, assim como as modas anteriores, essa também passa.
Gramática própria
• As letras S e C são substituÃdas por X, para infantilizar a fala. Ex: Você (Vuxeh)
• Os acentos agudos e circunflexos são substituÃdos pela letra H no final da palavra e o til pelas letras N/M. Ex: Será (Serah) / Não (Naum)
• O I é substituÃdo pelo EE. Ex: Gatinha (Gateenha)
• A letra O vira U. O dÃgrafo QU e a letra C viram K. Ex: Quero (Keru)
• O U não silábico vira W e o E vira I. Ex: Escreveu (Ixcrevew)
• As letras maiúsculas são usadas sem critério
E quem não sabe falar essa lÃngua pode se alfabetizar pelo http://www.coisinha.com.br/miguxeitor/