Carta de despedida ao trema

Amigos, depois de muitos problemas cibernéticos e de outras origens, voltamos à ativa.

Para comemorar, apresento este texto muito bom que recebi por menel (mensagem eletrônica). Partilho da indignação conta a injustificável morte do trema. Em breve, apresento um texto meu sobre o assunto.

Ah, se alguém souber quem é o autor avise-me.

Grande abraço a todos e um 2009 muito abençoado por Deus, com tranqÜilidade, paz e vida!

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Como outros já fizeram, quero também me despedir do trema, cuja morte foi anunciada por decreto a partir de 1º de janeiro.

Não uma, mas cinqüenta e cinco vezes, quero me despedir desta acentuação antiqüíssima e usada com tanta freqüência. Fomos argüídos a respeito?

Claro que não! A ambigüidade que tínhamos para decidir se queríamos usar o trema ou não numa frase nos foi seqüestrada para sempre. Afinal, a ubiqüidade do trema nunca nos foi exigida.

Quem deve se beneficiar com esta tão inconseqüente medida? Creio que tão somente os alcagüetes, os delinqüentes e os sangüinários, justamente aqueles que não estão eqüidistantes, como nós, dos valores eqüiláteros da Sociedade.

Vocês já se argüiram sobre as conseqüências do fim do trema para os pingüins, os sagüis e os eqüestres? Estes perderão uma identidade conquistada desde a antigüidade.

E o que dizer do nosso herói Anhangüera, que vivia tranqüilo com o seu nome indígena? Com a liqüidação do trema, a pronúncia do seu nome não será mais exeqüível.

Os nossos papos de chopp nunca mais serão os mesmos, pois a tão freqüente lingüicinha acebolada vai desagüar num sangüíneo esquecimento.

O que vai acontecer com o grão de bico com gergilim, agora sem o liqüidificador para prepará-lo?

Ah, meu Deus! Tenha piedade de nós! Nunca mais poderemos escrever que “a última enxagüada é a que fica”!

Não sei se vou agüentar a perda da eloqüência, em termos de estilo literário, que o trema trazia à Última Flor do Lácio.

É preciso que averigüemos se haverá seqüelas futuras! E para onde vai a grandiloqüência dos lingüistas?Haja ungüento para suportar tamanha dor!

O que podemos esperar em seqüência? Será que não se poderia esperar mais um qüinqüênio para que fossem melhor avaliados os líqüidos benefícios desta mudança?

Portanto, pela qüinqüagésima vez, a minha voz exangüe se une à dos bilíngües e trilíngües como eu, cuja consangüinidade lingüística e contigüidade sintática se revolta ante tamanha iniqüidade.

Pedir que nos apazigüemos, para mim é inexeqüível, pois falta-nos tranqüilidade diante de tamanha delinqüência gramatical.

Portanto é com dor no coração que lhe dou este meu adeus desmilingüido.

Adeus, meu trema querido! Mas pelo menos uma coisa me apazigüa, pois quando a saudade bater, sei que vou poder revê-lo quando estiver lendo alguma coisa em alemão.

(Autor desconhecido)

5 Replies to “Carta de despedida ao trema”

  1. Aí vai minha contribuição sobre o trema.
    VIDA, PAIXÃO E MORTE (SAGA DE UMA NOTAÇÃO)

    Asséde Paiva
    20/1/2209

    Ah! Meus amigos, correligionários… e povo que me odeia. Temos século e meio de convivência e nem assim consegui sobreviver. Claro, sei que nossa vida não foi um mar de rosas. Mas que fazer? Os casais mais amorosos têm desentendimentos. Nós tivemos os nossos. Sei que fui amado por muitos, odiado por outros tantos e solenemente ignorado pelos iletrados, mas deu para levar. Vamos recordar: Vim das Ilhas gregas, lá do Olympo, donde os gregos me tinham em conta. Sorrateiramente, transmigraram-me para a língua portuguesa (salvo melhor juízo em 1858, conforme abona mestre Houaiss). Porém, há um grande equívoco do mestre, sou muito mais longevo, visto que desembarquei no Brasil em 1500, junto com o escriba da frota de Cabral, Pero Vaz de Caminha. Acreditem se quiser! na sua missiva ao rei ele me usou várias vezes, como neste passo: “… fez o capitam suas diligençias pera o achar a huüas e a outras partes e nom pareçeo majs. E asy segujmos nosso caminho per este mar de lomgo ataa terça feira doitauas de páscoa que foram xxj dias dabril que topamos alguüs synaaes de tera semdo…” [… fez o capitão suas diligências para o achar, em umas e a outras partes, mas ele não apareceu mais. E assim seguimos nosso caminho por este mar de longo até que terça-feira das oitavas da Páscoa que foram 21 dias de abril topamos alguns sinais de terra sendo…]. Dá para ver que fui usado para indicar m ou n. Entrei em estado cataléptico durante 338 anos. Estou certo de que até 1853 eu não tinha guarida na última flor do Lácio. Em 1911, fui extinto em Portugal e trocaram-me pelo acento grave ( ` ). Resisti, esperneei e voltei em 1920. Também sou muito conhecido na língua alemã; no francês (nem tanto), mas minha melhor atuação, a mais provecta, foi no português do Brasil. Em Portugal, fui banido desde 1945. Eles me traíram e como dizem, popularmente, dancei. Na verdade, na verdade, vos digo: não sei, ao certo, de onde vim e também não sei meu gênero, se masculino ou feminino ou comum de dois, pois li por aí trecho dando-me como do gênero feminino. Eu hein! Talvez tenham elipsado na frase esta notação léxica… De modo que afirmo e que não haja dúvidas: eu não sou gay, não sou gay! Deletado (usando palavra da moda) em Portugal, pelo acordo de 1945, que o Brasil assinou, mas não aplicou (viva o Congresso Nacional!), permaneci lampeiro por mais de 65 anos no querido Brasil. As palavras que me ostentavam tinham um quê de nobre (como lingüística). Aqui me levavam muito a sério, até os poetas clássicos, parnasianos e românticos me utilizavam; quando precisavam de mais uma sílaba para suas septilhas, décimas e alexandrinos, não tinham problemas: punham-me em cima do i de deidade, ou do u de saudade e pronto: obtinham o número de sílabas necessárias para suas métricas. Também fui usado em Aïda egoïsmo, viüvez, saüdar etc., para mostrar que não formavam ditongos. Mas isto não podia continuar e fui proibido nestes casos. Estavam extrapolando minha função. Lembram-se? Só após q ou g e antes de e ou i, caso o u fosse pronunciado. OK?

    Levantaram-se clamores sobre a diversidade do português do Brasil e de Portugal, os lexicógrafos bradavam: Vamos dar um jeito nisto! Vamos organizar esta lusofonia! Vamos uniformizar o uso da língua portuguesa! Será bom pra todos! Seremos reconhecidos pela ONU. E assim, amigos, amigas, indiferentes e também meus cordiais inimigos, em janeiro de 2009 fui, mais uma vez, excluído do convívio da língua e dos meus pares, as notações léxicas: o acento agudo ( ´ ), o circunflexo ( ^ ), o acento grave ( ` ), o til ( ~ ), a cedilha ( , ) o apóstrofo ( Û¥ ), que vai muito mal das pernas; o traço de união ( – ) e o ponto abreviativo ( . ) Contudo, eu sou osso duro de roer, estou apenas em estado de coma (não de vírgula), estou letárgico, vida latente, sob criogenia até 2013. Quem sabe se até lá não me reavivarão? Quem viver, verá! Não fui definitivamente degredado, ainda subsisto nos Bürger, Müller, Bünchen (grande Gisele). Assim, despeço-me, por ora, de vocês. Deixarei saudades em alguns e darei alívio a outros. Lembrem-se de mim, das duas gotas ( ¨ ) que caíam sobre a calha do u e secaram, talvez para sempre. OXALÁ!

  2. aff meu ke falta de ter o ke fazer ke bom ke num tem mais a porcaria do trema ja que agora num preciso fica penssando onde socar isso

  3. Bom dia, Rogério.
    Imagino que alguém que escreve como você tenha, de fato, dificuldade para saber “socar”, não apenas o trema, mas também pontuação, concordância verbal, as letras certas nos lugares certos das palavras… Espero que seu futuro profissional e pessoal não dependa da língua portuguesa.

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