Muitas lições com uma cochilada só

Prezados, desculpem-me pela falta de novas publicações no blogue. Tenho feito publicações menores diretamente em nossa página no Facebook. Mas, pela carência de recursos lá, vou escrever aqui artigos maiores ou que exijam alguma ferramenta que o Zuck não fornece.

Recentemente, enquanto buscava resposta a uma dúvida (sim, ninguém sabe tudo sobre nosso fantástico idioma!), encontrei esta preciosidade, que exponho abaixo. Preciosidade, pois permitirá muitas lições rápidas com uma cochilada só.

Dormiu com vontade!

De pronto, salta aos olhos a falta de padrão nas respostas: algumas ficam abaixo da pergunta, outras, na mesma linha. A estética é péssima.

Mais graves, sem dúvida, são os muitos erros numa página que pretende ensinar português (ou, pelo menos, redação). A numeração nos ajudará a relacionar os erros e a aprender com eles. A eles, então.

11. Redação (como é mesmo o nome do site?) péssima. Por que não perguntar apenas: “É correto dizer dois ponto três por cento?”?

16. Bobagem. Segundo o mestre Celso Pedro Luft, no indispensável ABC da língua culta, relacionar(-se) a significa “ter relação ou analogia, estabelecer relação, ligar-se”. O completíssimo Dicionário gramatical de verbos do português contemporâneo do Brasil (1.376 páginas!), coordenado por Francisco da Silva Borba, diz que o verbo, “com dois complementos expressos por nome, sendo um deles introduzido por a/com, significa estabelecer relação lógica ou analogia, confrontar: Seria possível relacionar tal fato á sugestão do uso do simples pronome; Não relacionei a pessoa ao nome”. E dá ainda mais dois exemplos de uso de relacionar + a.

17. Bobagem quase completa. Raio-x, com hífen, é o nome popular da radiografia. “Vou tirar um raio-x da perna; acho que quebrei. Tenho uma pilha de raios-x lá em casa!” Raios X, segundo o excelente Dicionário Priberam, é “nome dado às radiações invisíveis que aparecem no tubo de Crookes, quando nele se produzem os raios catódicos”. Agora, se o físico alemão não descobriu raio nenhum, o que são os raios X?

20. Dormiu até quase entrar em coma! Primeiro, diz que “É proibido entrada” é errado; depois, diz que, se não houver artigo, como é o caso, é certo! Ah, meu filho, acorda e lava o rosto antes de escrever. Para deixar claro: é certo É proibido entrada e é certo É proibida a entrada. Erradas: “É proibido a entrada” e “É proibida entrada”. O mesmo vale para qualquer palavra feminina depois de proibido e sem ser antecedida do artigo a: “É proibido bebidas, permanência, algazarra, chuva, choradeira…”.

21. Meia bobagem. Para que a explicação sobre a formação dos superlativos absolutos sintéticos (desculpe pelo gramatiquês!) não fique muito longa, cito o mestre Cláudio Moreno: quanto a usar magérrimo “ou não, vale o que eu sempre digo a respeito dessas variantes: camisa-pólo com bermuda é roupa bonita e decente, mas não serve para todas as ocasiões. Traje de recepção? Macérrimo. Traje de passeio ou esporte? Magríssimo. Camiseta com sandália, ou pijama com chinelo? Magérrimo.” Se quiser uma explicação mais detalhada, leia o artigo do prof. Moreno.

(Um alerta: muito cuidado com quem jura de pé junto que tal palavra ou tal forma não existe ou é sempre errada. Não é assim que a língua funciona. Leia o que eu já escrevi sobre menas e sobre derrepente.)

22. Resposta confusa. Ninguém nunca vai falar (e, portanto, dificilmente vai escrever) que entrou correndo no hospital com o filhinho que desmaiou por causa da febre intensa, ou que não está muito preocupado, pois agora ele está apenas com uma febre amena. Em lugar de dizer que “não existe” essa forma, prefiro a cordialidade de Luft que diz ser “redundante ou pleonástica a combinação febre alta no sentido patológico” (implicitando que pode ser aceitável em outros contextos). E ele sugere algo “melhor: bastante febre, muita febre”. E concluo com a sempre útil dica de Moreno: ao entrar correndo no hospital ou ao falar com as comadres sobre os filhos, fale de febre alta, de febre que baixou, de febre que se mediu…

25. Bobagem completa. Basta consultar o VOLP (Vocabulário ortográfico da língua portuguesa): ambas formas lá estão.

26. Sem palavras. Alguém pega selo no envelope? Alguém? Desde minha tenra infância, no milênio passado, quando o carteiro passava por minha casa duas vezes ao dia e eu escrevia quase diariamente a meu irmão, eu colava ou grudava (às vezes, dando uma lambida neles) selos nas cartas. Mas nunca, jamais, em hipótese alguma eu preguei ou peguei selo no envelope. Alguém?

Bastante coisa, não? A cochilada rendeu! ;)

Se houver alguma dúvida não esclarecida sobre as coisas apresentadas na imagem, não deixe de perguntar nos comentários.

Grande abraço!

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