O meu? O dele?

Uma cochilada comum de redatores e revisores, e que produz resultados muito hilários, é o uso desnecessário dos pronomes possessivos de terceira pessoa. Veja este exemplo recente:

De quem mesmo?

O texto é dirigido ao leitor, dizendo a ele para não segurar um espirro, “tapando seu nariz e sua boca”. Observe que os dois pronomes possessivos são desnecessários. Afinal, o leitor não vai pensar que não pode mais espirrar tapando o nariz e a boca do cônjuge ou do pai ou de um colega de trabalho. Bastava, então, escrever “tapando o nariz e a boca”, bem como “buraco na garganta”. (Seria na garganta de quem, seu revisor cochilento?)

Mas tudo pode ficar ainda mais feio. E esse texto superou todos os demais competidores! Nos trechos destacados em amarelo, você verá sempre a mesma coisa: possessivo desnecessário e, para piorar, gerando uma surreal ambigüidade. O primeiro parágrafo conversa com o leitor, falando de “seu nariz, sua boca, sua garganta”, mas logo o artigo passa a usar as mesmas expressões para o pobre coitado, vítima do espirro. Será que ele estourou a garganta do leitor por tapar o nariz do leitor? Ou estourou a própria garganta por tapar o nariz do leitor? Ou arrebentou a garganta do leitor por tapar o próprio nariz? Ou, usando a penúltima frase, recebeu indicação de não segurar mais os espirros do leitor (não é a dica do primeiro parágrafo?).

Fica, então, uma lição bem simples (além daquela de não segurar o espirro): corte sem dó os pronomes possessivos dispensáveis. Quando houver realmente necessidade, para deixar o texto claro, sem ambigüidades, veja se não é possível usar “dele(s), dela(s)”. Não perca a sua vaga na faculdade por causa da sua cochilada na redação. ;)

Abraço!

2 Replies to “O meu? O dele?”

  1. Francisco, nunca iria imaginar que existiam estas armadilhas em nosso idioma! Obrigado por falar sobre isto!

  2. Pois é, Robson! Quem tem o idioma como ferramenta de trabalho tem a obrigação de não cair nessas armadilhas.
    O Que Falta está aqui para ajudar!

    Abraço.

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