O uso da crase: eita trem complicado! (1)

Nossa leitora Nicy pediu um artigo sobre crase. Aqui está!

Com certeza, muita gente concorda com o título. A crase reprova alunos, acaba com a reputação de escritores, faz a alegria dos elaboradores  de concursos, que amam questões com o sinal malvado. Alguns, por vida das dúvidas, tacam crase em tudo quanto é “a” que lhes aparece; outros extremistas optam por bani-la por completo.

O fato é que a crase é… um fato! Ela não pode ser abolida (alguns desavisados esperavam que isso acontecesse no malfeito Acordo, que, lembrem-se, este blogue conscientemente não segue), pois está intimamente relacionada à (olha ela aí, gente!) regência verbal, por exemplo. Pouca gente ouviu falar disso quando estava, lá no milênio passado, no primeiro grau, ao ser apresentado ao tal acento especial. E muitos, nestes tempos de tabelinhas coloridas e simplistas da internet, ouvem/lêem bobagens como “nunca se usa crase antes de substantivo masculino” ou “nunca se usa crase antes de palavras no plural”. (Um dia, explico porque dizer isso é bobagem.)

O problema não está na crase em si; a falha em tentar explicá-la é não apresentar ao aluno alguns outros conceitos, os quais ele precisa dominar, que o capacitarão a usar a crase corretamente. A regência verbal é um grande exemplo disso. E vamos falar sobre isso em artigos futuros. O Que Falta vai tentar, com a ajuda dos erros encontrados por aí, diminuir um pouco a complicação desse trem.

Para começar, um exemplo de uso errado:

Uso da crase errado depõe contra o autor

O texto de onde tirei essa frase vai servir ainda para outros artigos, pois o escritor resvala em vários aspectos do uso correto da língua. Aqui, na despedida de seu texto, ele agradece emocionado aos leitores… e erra feio na crase. Por quê?

Em primeiro lugar, por usar, erroneamente neste caso, a crase antes de palavra masculina (todos). Você lembra do truque de substituir o a com crase por ao, que sua professora deve/devia ter ensinado? (Em outro artigo, vou explicar porque isso funciona.) Ou seja, onde cabe à, tem de caber ao.  Aplicando ao exemplo, vê-se que não funciona: Obrigado ao todos… Se ele houvesse escrito “Obrigado à comunidade de leitores” estaria correto, pois poderia ser substituído por “Obrigado ao grupo de leitores”.

Em segundo lugar, errou feio por usar a crase “singular” antes de palavra no plural. A crase é, você deve lembrar, normalmente o acento que indica o encontro de dois as: um é a preposição, o outro, o artigo definido feminino. Assim como o artigo pode ser singular ou plural, o a com crase também: à ou às, dependendo da situação. Voltando ao exemplo do blogueiro, se todos admitisse ser antecedido de crase, esta teria de estar sobre as, não sobre a. Estaria certo, por exemplo, em: Obrigado às lindas leitoras. Isso se confirma pela regra de trocar à(s) por ao(s): Obrigado aos lindos leitores. Observe que a concordância de número (singular ou plural) é obrigatória também no uso da crase.

Primeira lição, simples e direta. Então, antes de você sair para o recreio, aplique o que leu acima e responda se as frases abaixo estão certas (C) ou erradas (E).

O diretor deu adeus às funcionárias despedidas. (C) (E)
Não quis mais comparecer à treinos de basquete. (C) (E)
Adamastor precisava morar à poucos metros da escola. (C) (E)
Como eu gostaria de voltar às cidades em que morei na infância! (C) (E)
Ele chegou à níveis do jogo que eu nunca consegui! (C) (E)

Abraço!

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